domingo, 31 de outubro de 2010

One time.

À Karine Lima "Bieber"


Estressado.
Era exatamente isso que eu era.
Mas não era por minha culpa, não queria eu mandar todo mundo pr'aquele lugar (na verdade às vezes eu queria sim). Era por instinto que eu tratava as pessoas mal.
Era por instinto de sobrevivência que eu mandava ela se ferrar.
Eu pouco me importava se ela deixaria de contribuir com seus cinquenta centavos diários para a lan house. Não me deixava em pânico a ideia de que,a a qualquer momento, ela poderia ir até meu chefe e fazer ele me despedir por falta de bons modos para com os clientes.
Eu naão estava nem aí pra ela.

E como eu odiava as pessoas insistentes.
Parece que ela ia me estressar, todos os dias, por puro prazer.
Eu não aguentava mais tê-la por perto, e foi aí que eu comecei a tê-la por dentro.

Deve ser bem verdade o que dizem sobre a proximidade entre o amor e o ódio.
Uma tênue linha imaginária se rompeu transformando o ódio mortal que eu sentia por uma espécie de amor incompreendido.
Eu passei de garoto chato da lan-house a um bom colega que olhava, de graça, os recados dela no orkut.
E ela passou, de uma cliente incoveniente, a alguém cujo sorriso sínico me encantava a cada dia mais.
Fomos nos chegando, nos apertando num espaço obrigatório, nos transformando em pessoas melhores, juntos.
Fomos aprendendo a conviver.
Pouco tempo depois era até boa a ideia de sairmos juntos.

Mais um tempo e ai COMBINÁVAMOS de sair juntos, e eu ia deixá-la na esquina, para que nenhum estressado noturno pudesse fazer nada contra ela.

E então foi rápido demais até que comecemos a jogar com outros amigos qualquer jogo de aliados. E fossemos nós os aliados, um do outro.
E (acreditem!) descobrimos que amávamos as mesmas coisas e pessoas na mesma proporção em que odiávamos o Justin Bieber.
Sim, de fato não suportamos aqueles gemidinhos que ele dá enquanto canta suas nojentas composições.
Não suportamos mesmo a distância que agora nos separa.
E lembramos com uma certa saudade do tempo em que ela me estressava e eu devolvia cuspidas de fogo a ela e a quem estivesse por perto.
Sentimos profundas saudades de estarmos perto.
E eu sinto uma profunda admiração por ela, mesmo já tendo a criticado, enojado, chamado-a de asquerosa.
Eu a amo, mesmo a tendo odiado.
E isso tudo foi graças a ela, e ao tempo.
Um tempo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entre rabiscos, riscos e retalhos de seda.

À Andressa Vidal


Devia ser outono.
Não que eu me lembre exatamente do dia, ou da época.
Sequer existe, por aqui, essa divisão exata que permita identificar a estação do ano em que estávamos.
Mas eu insisto em achar que era outono, porque tudo me pareceu muito floral, muito solar e extremamente agradável naquele dia.
O vento era brando e o chão parecia mais próximo.
Ela se aproximou, sorriu e soletrou um bom-dia de um jeito diferente, do jeito dela.
Eu, pra falar a verdade, não estava num dia muito bom.
Tínhamos uma grande amiga em comum, uma formiguinha já citada dias antes, e era só.
Uma flor e um espinho, ligados por um elo magnífico.

Desde então - e misteriosamente - algum jardim cresceu dentro de mim, com direito a gnomos fazendo travessuras e fadas doces e intocáveis mechendo em suas varinhas que eu nunca dei muita atenção.

Ela e eu tínhamos algo em comum.
Talvez a forma de ver a vida e as pessoas, a sensibilidade de sentir além de qualquer barreira contruida pelos preceitos humanos e vorazes.
Talvez o que tínhamos em comum era a enorme vontade de viver.
E tínhamos muitas, muitas,incontáveis diferenças.

Eu não me imaginaria nunca sentado em uma calçada ouvindo alguém, insistentemente, falar em moda, em modelitos, em modelos, em mais moda.
Nunca fui disso. Até então.
Nunca pensei em ser futil ou em conviver com alguém assim (pelo menos aparentemente).
Ela também, tenho certeza, nunca se imaginou sendo amiga de um nerd desajeitado, nada fotogênico, que faz piada de tudo.

A grande verdade é que nunca nos imaginamos amigos.
Mas o destino não precisa que imaginemos coisa alguma.
Ele chega, sopra qualquer vento que seja, e faz o que bem entende.
E conosco foi assim.

Entre rabiscos de blusas superestilosas e saias de cós alto, riscos de textos não terminados, letras de músicas perfeitas e retalhos de seda (pura) nos tornamos o que somos.
Entre mundos multicoloridos e conversas profundas e extremamente construtivas.
Entre voltas e revoltas, eu passei a ver as coisas de um jeito diferente, de uma maneira mais pensada (sim, estilisticamente falando), e ela passou a ler coisas que eu escrevo, e sentir da mesma forma que eu as sinto.
Nos tornamos amigos.
Amigos que não precisam ser iguais e que respeitam todas as desigualdades que hajam.
Amigos pelo simples fato de estarem vivos, compartilhando o mesmo pedaço de natureza e as mesmas pétalas de flores, trazidas por qualquer força estranha.
Amigos que se amam e não tem nenhuma vergonha de dizer isso.

Eu sou a pedra.
Ela é a rosa.

Uma cor, uma flor.
Um pedaço de sol.