quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lua

À Lia Almeida



É dificil entender como se sabe, instantaneamente, que uma pessoa fará parte da sua vida.
E, por mais paradoxal que isto pareça, as coisas improváveis são as que mais fazem sentido no final das contas.
Lia era alguém de quem eu apenas ouvia falar. Uma garota diferente que cantava MPB nos barzinhos da cidade, era muito popular,  jogava vôlei muito bem e, ainda por cima, escrevia com o coração.
Era como a lua, da qual a existência eu sabia mas não possuia, em mim, nenhuma pretensão de estar perto.
Depois ela virou aquela menina cantando musica brega no onibus que me fez rir durante uma viagem inteira mas que, ainda assim, não sabia da minha existência, talvez por não ter me notado na cadeira ao lado ou pelo nível de alcool em seu organismo estar um pouco acima da média.
Era encantadora, de longe, eu me lembro.
O que não recordo é em qual momento eu passei a fazer parte da vida dela.
Quem sabe tenha sido no dia em que li  "Sintomas da Lua" e percebi que Lia, a lua e eu tínhamos muito em comum, mais do que eu poderia imaginar; ou então quando ela locou "Cisne Negro" e me olhou com uma cara de "talvez você tenha gostado deste".
Não sei.
Só sei que o olhar, o sorriso e a doçura de Lia me fizeram ter a lua, inteiramente pra mim.
E hoje o presente é outro.
Hoje eu não me vejo sem aquelas velhas quintas-feiras regadas com musica de bom gosto, conversas inteligentes e suaves companhias.
Não me vejo ausente da vida deste ser iluminado, desta grande criatura que não sente vergonha de chorar ou de dizer o que sente. Não me imagino sem seus abraços, o som da sua risada ou as noites desocupadas nas quais dividimos nosso pedaço de céu.
Dividimos a lua.
E, embora nenhum de nós dois nos julguemos sol, aquele que tem luz própria, eu estou MUITO feliz recebendo apenas o suave, singelo e reconfortante brilho da minha Lilia.
Minha flor, minha amiga, minha lua.
Eu te amo, Lia.
Feliz Aniversário.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Correnteza




Tudo se vai.
As coisas correm rápido demais, escapam das mãos, fogem dos olhos e passam.
Passam como se o tempo, n'um surto de desespero, desejasse atingir o máximo de velocidade possível.
Quando a gente vê já é noitinha, quando nos damos conta estamos sozinhos novamente. Um belo dia percebemos a primeira ruga, o primeiro cabelo branco, o derradeiro erro infantil e o inicio de uma gama de erros adultos.
De repente acordamos e sentimos que falta algo. Falta tempo.
E é nesse momento que sentamos, cabisbaixos, e simplesmente olhamos os dias irem embora, as horas rodopiarem, as pessoas sairem e entrarem com desculpas esfarrapadas e papéis de bombom amassados no bolso.
Então nos damos conta de que nada pertence a ninguém, de que o tempo é um empréstimo e que um dia, o rio leva.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A música e eu.


Depois de muito penar, me decidi.
Decidi casar com a música.

Fui pensando, quebrando a cabeça, relembrando quem esteve sempre ao meu lado quando precisei. Me veio à mente um alguém, e outro e mais alguns.
Triste surpresa foi a minha quando descobri que, de todos os belos seres humanos que habitam meus momentos dificeis, nenhum deles é candidato ao "até que a morte os separe", quando se trata do meu coração...
Então me veio ela.
E aí tudo ficou claro.

Vou me casar com a música.

E quando eu acordar bem solar, correrei para os braços de Vanessa, cantarei seu "Ai ai ai" e sairei rodopiando pela casa, imaginando seus vestidos esvoaçantes a me brindar com aquele jeito, aah, aquele jeito...
E a tardinha tomarei um chá com Chico e não me importarei se com ele vierem "João e Maria" para prosearmos enquanto espero que Roberta chegue, de blusa amarela, ensaiando rimas para um "Belo estranho dia de amanhã".
Sairei ostentando satisfação ao lado de Marcelo, para que todos vejam que até mesmo um "Cara estranho" tem seus dias de glória. Para todos descobrirem, enfim, "De onde vem a calma".
Jogarei conversa fora, num banco de praça, com os "Versos mudos" de Marjorie e quem sabe encontrarei a tão dificil "Resposta ao tempo" que Nana tanto procura quando me encontra.

E, quando eu não estiver tão solar assim, curtirei a minha viuvez, relembrando a "Malandragem" de Cássia, sentindo o "Vento no litoral" que Renato me descrevia tão bem e recordando que, um dia, estive com Cazuza "Por quase um segundo".
Deitarei na grama com Nando e deixarei que ele me explique sobre "Os cegos do castelo", enquanto Rita movimenta "Minha vida" pra deixar tudo fora do lugar.

Talvez esse casamento dure pra sempre.
Talvez acabe logo.
Mas certamente ouvirei a coisa certa, na hora certa, da pessoa certa.

Vou me casar com a música.