sábado, 22 de dezembro de 2018

Ir, para permanecer.

Sempre tivemos uma necessidade visceral de ficar.
Para manter nossos caprichos, contudo, esquecemos que ficar não tem nada a ver com permanecer. E eis que eu resolvo deixar ir, e ir também.

Ir, para que o som da sua risada não seja, com a crueldade do tempo, substituído pelos gritos que a sua ausência produz. Para que o barulho que você fazia subindo as escadas não se confunda com os passos de outras pessoas. Partir para que a memória dos seus olhos recém-acordados não se converta em contatos frios, solitários e impessoais com uma tela de 4,5' mostrando letras que qualquer um podia ter mandado.
Ir para guardar em cada pedaço de mim o seu toque e não esquecer a doçura dos momentos que, aos poucos, serão sufocados se eu ficar. Ir para gravar no olhar quando você me chamava de "amr", quando você me fazia acreditar que, dessa vez, todos os planos dariam certo. Ir, então, para que a beleza dos sonhos não seja soterrada pela realidade, para que os sonhos permaneçam, mesmo que guardados em uma gaiola aberta, com as asas podadas, sem o dom de voar.
Ir, para que a alegria de caminhar ao seu lado não seja encoberta pelos aniversários, natais e tardes de sábado sem você aqui e para que as lembranças que te arrancavam sorrisos não sejam deletadas para que sua memória guarde as lágrimas.

É preciso ir, e te deixar ir, para que possamos voar guardando, lá dentro de nós, uma lembrança doce do que poderíamos ter sido, ao invés do amargor daquilo que nos tornaremos se não formos.

Ir, para permanecer.