quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sonhos de papel machê.



"(...)nada vai desbotar. Brinquedo de papel machê."
João Bosco


Um ano acabando.
Início de uma nova jornada. Novos planos, novas conquistas, vida nova talvez.
Muitos rabiscos de declarações que nunca foram feitas por falta de coragem; muitas dietas de emagrecimento a curto prazo; muita esperança brilhando no olho.
Certamente o mundo seria melhor se todos carregássemos conosco esse quê de despedida, essa vontade enorme de sentir e de se sentir.
Hoje várias listas estão sendo feitas.
Pedidos pra santos diversos.
Orações, promessas.
Um turbilhão de pensamentos bons e sorrisos escancarados.
Muita comemoração.
Eu também tenho feito minhas listas, de cabeça. Listas do que há de vir e do que já foi.
Em 2010 eu chorei muito. Chorei de alegria e de tristeza.
Desejei desesperadamente estar do lado de pessoas que estavam longe.
Quis abraçar minha mãe e ser tratado como uma criança. E quis tomar atitudes maduras e severas também.
Aprendi a diferença entre thriller e terror.
Conheci uma humanidade que eu não esperava. Gente sem água encanada, sem esgoto, sem energia elétrica. Sem comida.
Convivi com pessoas fantásticas por curto tempo, até que elas simplesmente voaram. E nem por isso deixaram de ser maravilhosas.
Lembrei de amigos antigos que não são mais amigos.
Do cara ruivo, da menina do nome original.
Voltei a conviver com amigos antigos e amores eternos.
Em 2010 eu aprendi que amor não nasce quando a gente quer.
Decepcionei gente que me amava e pensei ter descoberto a cura pro coração partido.
Até que os pedaços aumentaram.
Estive com eles e elas.
Estive sozinho também.
E hoje estou com uma sensação maravilhosa de dever cumprido.
E com planos, objetivos e sonhos de papel machê colorido.
Olhando as estrelas e pedindo ao tempo, como sempre faço.
Pedindo ao tempo, e a Deus.
Que esse novo ano traga tudo o que me falta, sem levar o que eu já tenho.
Feliz Ano Novo.




quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Então, é Natal!





Galos cantam ao fundo.
É o anuncio de um novo dia.
Não um dia comum de céu nublado e ruas desertas.
Um dia especial.
Hoje não estou onde eu quero, com quem eu quero ou fazendo o que eu quero.
Minha unica companhia sou eu mesmo, e meu computador.
Mas, de algum jeito, uma felicidade enorme me invade, um sentimento que só é possível ser sentido nessas datas de fim de ano.
Talvez porque o fim de alguma coisa faça as pessoas pensarem em como estão agindo.
Não sei o que acontece, mas sei que estou feliz.
Claro que, se eu pudesse escolher, estaria reunido com minha família, meus amigos e todas as demais pessoas de todos os natais.
Mas não, eu não posso.
Mas essa solidão não tem nada a ver com sentimentos.
Tem a ver com as coisas que os homens criam e precisam manter, como ganho de notinhas azuis.
Os sentimentos são multicoloridos e imortais.
E, nesse Natal, embora eu não possa estar reunido com todos, cada um deles está reunido dentro de mim com uma força sem tamanho.
Cada sorriso, cada beijo acompanhado por um "Feliz Natal", cada lembrança.
Tudo amontoado no coração.
Lembranças de natais passados me fazem perceber o quanto as coisas mudam, mas ao mesmo tempo o quanto os sentimentos se fortalecem quando são reais.
E é disso que trata o Natal.
Não é preciso estar perto sempre, basta estar eternamente dentro.
Como Deus está dentro de cada um de nós.
E Seu filho, de quem esta data é relativa, também.
Espero que todos lembrem daquele velho significado do Natal.
E amem as pessoas acima das coisas.
Feliz Natal mãe, Rafaelly, Raffah, Isis, Luiza, Lorena, Andressa, Rodox, Amanda, Jessica, Victor, Karine, Guilherme, Thais, Lucas, Rhadassa, família toda, tia Dadá, Fábio,todo o povo dos jogos da net. Amo muito vocês.
Feliz Natal, mundo.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quando elas não mais se derramam.

Nunca pensei em um dia dizer isso e ontem mesmo jurei ser o contrário.
Não é fácil, pra quem condena os homens-robôs, admitir que suas lágrimas secaram.
Mas eu simplesmente não sei porque não as derramo agora, porque não me satisfaço mais sentindo-as escorrer dos meus olhos castanho-claros e descer até que desapareçam.
É insuportável admitir que finalmente estou sendo mais forte do que eu pensava, e temia.

A questão vai além de eu me tornar maduro ou alguma coisa que englobe a falta de lágrimas derramadas.
A questão é que pra que um redemoinho exista, o vento tem que estar acompanhado de terra, de grãos que ardem nos olhos.
Eu não me acostumei ainda a não chorar.

Faz pouco tempo.
Alguém me disse que talvez eu precisasse, por alguns invernos gelados, me tornar um homem-robô, daqueles daqui mesmo, terráqueos.
E eu, rapidamente, rejeitei a idéia.
Mas pensei e descobri que eu estava saindo de Marte, com pouca gasolina.
Passagem de ida pra Terra, com medo de não voltar.

E os motivos, desconheço.
Talvez seja insuficiência de amor.
Talvez não tenha sido amor.
Ou talvez as minhas glândulas lacrimais estejam com algum tipo de defeito por uso repetitivo e/ou entraram em greve, cansadas.

Eu quero desesperadamente encontrar hipóteses que me afastem da possibilidade de ter me tornado robô.

Não, eu não prefiro sofrer, longe disso.
Mas eu não quero acabar como muitos, que se encharcam de decepções e passam a destruir o poder de sentir dos outros.
Não quero ser aquele cara chato que fecha a porta quando o vento bate e se recosta na sua poltrona cheia de ácaros e vê o futebol de domingo.

Eu quero é abrir as portas e tentar até que as tentativas se esgotem, e surjam novas tentativas.
Eu quero uma infinidade de sentimentos, mesmo que eles me tragam lágrimas.
Eu quero sentir, e sentir eternamente.
Porque não sou feito de lata.
Embora eu ainda deseje um coração de plástico.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Burguesinha

À Rafaella Toledo


Muitos dizem que almas gêmeas não existem.
Muitos não acreditam em conspiração do destino.
Mas eu posso dizer que ambos existem e me fizeram encontrar uma pessoa que eu procurava incansável em todos os lugares por onde passava.
Podia ser um chat como outro qualquer, onde pessoas se reúnem por afinidades quaisquer, trocam meia dúzia de palavras mais ou menos fundamentadas e se despedem, e vão viver suas vidas como antes.
Não foi.
Dentre todas aquelas pessoas, de lugares diversos e gostos duvidosos, de olhares desconhecidos e amores inventados, havia uma especial.
Uma que me fazia sorrir até doer a barriga.
Era lourinha, carioca e ouvia Marjorie.
E me encatava, muito.

Começamos uma amizade/amor que eu não consigo explicar, mesmo hoje, depois de tanto tempo.
Iniciamos uma espécie de amor sem contrato, sem "poréns" nem "contudos", sem ninguém ter que fazer nada.
Percebemos que um tinha mais do outro do que podíamos supor, que gostávamos das mesmas coisas, que adorávamos suco de uva, mas que um suquinho de maçã também não poderia ser desprezado.

E como tempo é uma grandeza que se mede em experiências, tivemos que nos distanciar pra saber o quanto amávamos e precisávamos um do outro.
E descobrimos que éramos indispensáveis para nossa felicidade.

Não tenho como descrever o que eu sinto quando ela me diz as coisas lindas que só ela sabe e que só ela sente, quando me ajuda a domesticar meus medos e enfrentar meus fantasmas, quando me faz sorrir, mesmo que só com o canto da boca, quando na verdade eu queria desabar em prantos.
Não há como me descrever, sem citar o que eu sou quando estou com ela.
Eu me torno mais forte, mais feliz, mais eu.
Ela me deixa em casa, e eu posso colocar os pés no centro e derramar pipoca no chão, que não há problema.
E eu posso perguntar, sem cerimônia nenhuma, coisas absurdas.
Me sinto totalmente livre, sem amarras.

E conheço cada centímetro do coração dela.
E ela do meu.

Nossos planos acompanham nossa eterna parceria.
Cinemas, shows, conversas jogadas fora na praia, carnaval fervilhante ao som de Cláudia Leite, visita obrigatória à pirâmide da Dercy Gonçalves...
Tudo isso vai acontecer em seu tempo, porque ela e eu temos todo o tempo do mundo.

E nada, nada vai ser esquecido.

Nem os sorrisos divididos e multiplicados.
Nem as lágrimas que ela derramou ao receber minhas cartas.
Nem a banana que eu tatuei com o nome dela.
Nem as lágrimas que eu derramei ao receber suas cartas.
Nenhum momento será deixado pra trás, porque seria como se eu deixasse um pedaço meu pelo caminho.

Minha burguesinha, minha adorável pedra preciosa.
A pessoa que mais está apta a ser mãe de filhos meus.
E que será.

Minha eterna Raffah.
Eu te amo.



sábado, 4 de dezembro de 2010

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Levanta-te, sol.
E venha provar que nenhuma escuridão é eterna.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Meu porto seguro.

À Mazé Ricarte


Fazem 21 anos, quase 22.
Eu não fazia a mínima idéia do que acontecia naquele quarto meio claro, meio escuro, com todas aquelas pessoas em volta, umas sorrindo, com a sensação de dever cumprido, outras chorando de felicidade.
Pra ser sincero, eu nem lembro que nada disso tenha ocorrido.
Mas alguém me disse que foi assim, que eu não causei muita dor e chorei imediatamente ao aparecer (há duvidas quanto a isso, talvez eu tenha chorado antes mesmo de aparecer).
Eu chorava, mesmo que sem motivos, pela primeira vez. E esse alguém estava lá.
À medida que os primeiros dias passavam, eu devorava litros de leite, segundo esse alguém. Devorava como um animal faminto e deixava-a exausta.
Dormir, é claro, era tarefa difícil para ela, já que eu sempre estava disposto a comer, e comer, e quem sabe comer mais um pouco.
E, nas noites em claro, ela estava lá.
O tempo trouxe comidas novas e eu fui enjoando do leite e me encantando por bolinhos disso, tortinhas daquilo e umas papinhas que eu nem lembro mais o gosto.
E fui fazendo-a substituir as noites em claro pelos dias cansativos, correndo de um lado pro outro atrás de uma bolinha branca e redonda (era eu) que não parava um só instante.
Eu caia demais e, pra me levantar, ela estava lá.
Eu aprendi a falar, a andar sem cair, a ler. Tudo porque ela estava lá.
E ela esteve lá quando eu não consegui aprender a andar de bicicleta, e esteve quando eu não aprendi a nadar também.
Estava sempre por perto quando eu tinha duvidas do português primário da 3ª série e parecia segurar a impaciência com toda a força que tinha, quando eu era insensato demais pra perceber os erros cometidos de novo.
Meus erros pareciam perfeitos. Pois ela sempre esteve lá.

E, como seria natural, eu fui crescendo e parando de causar aquelas velhas preocupações infantis.
Eu tinha preocupações pré-adolescentes demais para presenteá-la.
E ela teve que deixar de estar, por algum tempo, pra sanar os problemas que o destino trouxe.
E eu percebi que, mesmo distante, ela continuava estando ali.

É mágico demais pra ser entendido esse desprendimento voluntário, essa vontade de viver pro outro, essa doação inteira.
Ela sempre foi mágica pra mim.
A ausência dela me fez ver o quanto ela significava e o quanto ela e eu somos um só, como caminhamos juntos e servimos de apoio um ao outro - ela me apoia muito mais que eu a ela, claro.

E aprendi tanta coisa, que nenhuma escola ensinaria.
Aprendi, com ela, que sonhos e planos se distinguem muito.
Através das experiências dela, eu sei que a vida não reserva contos de Alice no país das maravilhas, mas que eu posso escrever minha própria estória, e sonhar meus sonhos, e construir meus planos.
Aprendi graças a essa pessoa iluminada e maravilhosa, que mesmo que se esteja limpando vidraças, se eu limpar muito bem essas vidraças, amanhã poderei liderar uma equipe.
Aprendi a vencer e a perder, com ela.
Aprendi a amar.

E pode ser que eu não seja grande pessoa e que não tenha as qualidades maiores do mundo.
Pode ser que eu tenha os piores defeitos do mundo.
Mas eu estou certo de que o melhor que há em mim, foi ela que construiu.
O amor ao ser humano, a dignidade e a imortal esperança.

E a cada dia, eu quero viver o suficiente para fazer por ela, tudo o que ela fez, e faz, por mim.
Porque ela é meu ponto de chegada, meu porto seguro.
E eu a amo, com tudo o que posso.
Minha amiga, companheira.
Minha mãe.





sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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A maioria das pessoas prefere se tornar apenas mais uma, simplesmente por medo de carregar o pesado fardo de ser única.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um coração de plástico, com gelo.

Eu quero um coração novo.
Um diferente do meu.
Não quero que ele seja de carne e nem que esteja ligado ao cérebro.
Não quero adrenalina descarregada e batidas fortíssimas ao pensar em qualquer pessoa que seja e nem pretendo que ele envie ondas ao meu estômago que me causem tontura ao lembrar dos momentos felizes que tive, aqueles que ficam imediatamente antes das decepções.

Eu quero um coração novinho em folha.
Inquebrável, impermeável e, principalmente, frio.
Tô ficando cansado de corações de manteiga, derretidos quase sempre e doces demais pra esse mundo descartável.
É isso.
Preciso mesmo é de um coração de plástico.
Que resista às chuvas, que demore séculos para se degradar e que sirva direitinho no espaço enorme que esse de carne humana ocupa.
Ele até pode ser maleável, mas nunca corruptível, pode ser qualquer plástico vagabundo até.
Não me importa se ele incomodar um pouco, de vez em quando, ou se de repente eu esquecer que ele existe. Me importa muito é que eu vou esquecer que esse existe.

E vou procurar até encontrar.
Se preciso comprarei, irei até o Robert Ray e ele colocará, sem problemas pós-cirúrgicos, meu novo coração plastificado.
E me deixará ali, descansando enquanto penso no sofrimento que não precisarei passar.

Preciso de um coração de plástico, urgente.



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Plenitude.

Hoje parei pra pensar, sem pressa nenhuma.
Pensei em quanto tempo é preciso para que um ser se torne pleno, em quantos sorrisos uma pessoa precisa acumular para poder dizer que é feliz.
Pensei em quantos "nãos" se precisa ouvir para entender que um dia o "sim" virá, e em quantos caminhões carregados de tangerina precisamos esbarrar para enfim achar a metade que procuramos, a metade da tangerina. (Não gosto muito de laranjas!).
E, assustadoramente, me deparei comigo mesmo, com o que me tornei.
Uma espécie de busca dentro de mim mesmo que me fez ver, mesmo relutante, que eu simplesmente tenho tudo o que eu preciso pra me tornar completo, pleno.
Me deparei com um garoto de olhos redondos, parado na porta, olhando pra dentro e querendo entrar.
E eu o deixei entrar.
Me deparei com muitos jardins, com flores silvestres e ervas daninhas e percebi que a beleza dos lírios e copos-de-leite me daria toda a coragem que eu precisava para arrancar as bromélias carnívoras do caminho, e limpar a passagem.
Pensei em como tudo muda em poucos meses. Em como velhos amigos retornam e nos fazem acreditar na filosofia de que "amigos verdadeiros nunca deixam de ser amigos".
Imaginei o calor de mãos e a firmeza de abraços.

Ouvi perfeitamente vozes nunca esquecidas e passou frente à mim um leque de sorrisos, cada qual com sua particularidade: dentes amarelados, olhos fechadinhos, buraquinho nas bochechas...

Fechei os olhos e era como se eu os tivesse aberto o máximo que poderia.
Vi o quanto tenho que agradecer pelas pessoas, sorrisos e olhares que Deus colocou especialmente para mim.
E o quanto é bom tê-los, do outro lado da esquina, ou do outro lado do mundo.

Me vi sentado num caes,rodeado de todas as pessoas que amo e sorri, quando vi que elas simplesmente não caberiam na praia.
E vi uma borboleta branca voar desajeitadamente até pousar no meu destino e me fazer arrepiar.

Imaginei todas essas coisas como se fossem sonhos distantes, um dia.
E agora parece que tudo sempre foi meu, com a leveza e maravilha que representam.

Conquistei uma felicidade enorme.
Atingi a plenitude.

domingo, 31 de outubro de 2010

One time.

À Karine Lima "Bieber"


Estressado.
Era exatamente isso que eu era.
Mas não era por minha culpa, não queria eu mandar todo mundo pr'aquele lugar (na verdade às vezes eu queria sim). Era por instinto que eu tratava as pessoas mal.
Era por instinto de sobrevivência que eu mandava ela se ferrar.
Eu pouco me importava se ela deixaria de contribuir com seus cinquenta centavos diários para a lan house. Não me deixava em pânico a ideia de que,a a qualquer momento, ela poderia ir até meu chefe e fazer ele me despedir por falta de bons modos para com os clientes.
Eu naão estava nem aí pra ela.

E como eu odiava as pessoas insistentes.
Parece que ela ia me estressar, todos os dias, por puro prazer.
Eu não aguentava mais tê-la por perto, e foi aí que eu comecei a tê-la por dentro.

Deve ser bem verdade o que dizem sobre a proximidade entre o amor e o ódio.
Uma tênue linha imaginária se rompeu transformando o ódio mortal que eu sentia por uma espécie de amor incompreendido.
Eu passei de garoto chato da lan-house a um bom colega que olhava, de graça, os recados dela no orkut.
E ela passou, de uma cliente incoveniente, a alguém cujo sorriso sínico me encantava a cada dia mais.
Fomos nos chegando, nos apertando num espaço obrigatório, nos transformando em pessoas melhores, juntos.
Fomos aprendendo a conviver.
Pouco tempo depois era até boa a ideia de sairmos juntos.

Mais um tempo e ai COMBINÁVAMOS de sair juntos, e eu ia deixá-la na esquina, para que nenhum estressado noturno pudesse fazer nada contra ela.

E então foi rápido demais até que comecemos a jogar com outros amigos qualquer jogo de aliados. E fossemos nós os aliados, um do outro.
E (acreditem!) descobrimos que amávamos as mesmas coisas e pessoas na mesma proporção em que odiávamos o Justin Bieber.
Sim, de fato não suportamos aqueles gemidinhos que ele dá enquanto canta suas nojentas composições.
Não suportamos mesmo a distância que agora nos separa.
E lembramos com uma certa saudade do tempo em que ela me estressava e eu devolvia cuspidas de fogo a ela e a quem estivesse por perto.
Sentimos profundas saudades de estarmos perto.
E eu sinto uma profunda admiração por ela, mesmo já tendo a criticado, enojado, chamado-a de asquerosa.
Eu a amo, mesmo a tendo odiado.
E isso tudo foi graças a ela, e ao tempo.
Um tempo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entre rabiscos, riscos e retalhos de seda.

À Andressa Vidal


Devia ser outono.
Não que eu me lembre exatamente do dia, ou da época.
Sequer existe, por aqui, essa divisão exata que permita identificar a estação do ano em que estávamos.
Mas eu insisto em achar que era outono, porque tudo me pareceu muito floral, muito solar e extremamente agradável naquele dia.
O vento era brando e o chão parecia mais próximo.
Ela se aproximou, sorriu e soletrou um bom-dia de um jeito diferente, do jeito dela.
Eu, pra falar a verdade, não estava num dia muito bom.
Tínhamos uma grande amiga em comum, uma formiguinha já citada dias antes, e era só.
Uma flor e um espinho, ligados por um elo magnífico.

Desde então - e misteriosamente - algum jardim cresceu dentro de mim, com direito a gnomos fazendo travessuras e fadas doces e intocáveis mechendo em suas varinhas que eu nunca dei muita atenção.

Ela e eu tínhamos algo em comum.
Talvez a forma de ver a vida e as pessoas, a sensibilidade de sentir além de qualquer barreira contruida pelos preceitos humanos e vorazes.
Talvez o que tínhamos em comum era a enorme vontade de viver.
E tínhamos muitas, muitas,incontáveis diferenças.

Eu não me imaginaria nunca sentado em uma calçada ouvindo alguém, insistentemente, falar em moda, em modelitos, em modelos, em mais moda.
Nunca fui disso. Até então.
Nunca pensei em ser futil ou em conviver com alguém assim (pelo menos aparentemente).
Ela também, tenho certeza, nunca se imaginou sendo amiga de um nerd desajeitado, nada fotogênico, que faz piada de tudo.

A grande verdade é que nunca nos imaginamos amigos.
Mas o destino não precisa que imaginemos coisa alguma.
Ele chega, sopra qualquer vento que seja, e faz o que bem entende.
E conosco foi assim.

Entre rabiscos de blusas superestilosas e saias de cós alto, riscos de textos não terminados, letras de músicas perfeitas e retalhos de seda (pura) nos tornamos o que somos.
Entre mundos multicoloridos e conversas profundas e extremamente construtivas.
Entre voltas e revoltas, eu passei a ver as coisas de um jeito diferente, de uma maneira mais pensada (sim, estilisticamente falando), e ela passou a ler coisas que eu escrevo, e sentir da mesma forma que eu as sinto.
Nos tornamos amigos.
Amigos que não precisam ser iguais e que respeitam todas as desigualdades que hajam.
Amigos pelo simples fato de estarem vivos, compartilhando o mesmo pedaço de natureza e as mesmas pétalas de flores, trazidas por qualquer força estranha.
Amigos que se amam e não tem nenhuma vergonha de dizer isso.

Eu sou a pedra.
Ela é a rosa.

Uma cor, uma flor.
Um pedaço de sol.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pra se eternizar

Foi de supetão.
De repente estávamos lá, e parecia que ninguém mais estava...
O plano de fundo foi ficando opaco e sem movimento, como nos filmes, e nossa imagem sobressaiu-se em meio aquele aglomerado de gente apressada, num vai-e-vem de boas-vindas e adeus, com pacotes de malas e olhares frios...
Alguma coisa ali começava a esquentar.
E não eram as "guloseimas" embebidas em óleo que certa mulher antipática anunciava irritantemente.
O que ferviam eram as emoções.
Emoções de quem encontra, por acaso e sorte, alguém que traz consigo tudo aquilo que figura nos sonhos e que dificilmente sai deles, alguém cujos beijos, embora apressados pra se despedirm, marcaram como tatuagem.

Um alguém especial de quem só o nome era conhecido.

Mas talvez esse não tenha sido só mais um encontro casual entre duas pessoas quaisquer, escolhidas aleatoriamente pelo destino.
Talvez a tal felicidade tenha mesmo surgido, embora para mim seja muito dificil assimilar essa ideia.
Talvez esse seja o bolo confeitado com cereja em cima mais delicioso que já experimentei na vida e, certamente, não me arrependerei de ter deixado uma fatia bem grande pra quando a festa acabar...

E torço pra que a festa nunca acabe.
Torço pra que esse doce gosto que guardei comigo nunca saia de mim e pra que a pressa daquele encontro se transforme na plenitude de sonhos conjuntos.
E que nunca esfrie a chama.

Porque há coisas que vêm e passam.
E há coisas, poucas coisas, que eu insisto em conservar comigo.
Pra que se tornem eternas.

Das dores que cessam

Nada mais que uma dor
Súbita, quase mortal
De sentir cortar a alma
Fim do doce, sobra o sal

Por azar, não há remédio
Não há fulga, não há nãos
É quando os olhos transbordam
E brota o suor das mãos

E treme toda a rocha
Que se teima em içar
Desmorona a fortaleza
Incendeia todo o mar

E de tão tenra, calada
Não pulsa, não se anuncia
Trazendo bem sorrateira
O que, de veras, se temia

E abre, algoz, a ferida
E machuca, sem pudor
Transformando a calmaria
Num eco perturbador

Depois cuida, carinhosa
Daquilo que fez ferir
E cura a velha ferida
Pra fazer outra se abrir.


Allan Ricarte

segunda-feira, 5 de julho de 2010

De outro mundo.

Antes de tudo, duas observações relevantes:


•se você é um humano convicto e tem aquela velha opinião formada sobre tudo, esse texto não foi feito pra ser lido por você.


•nada do que esteja expresso no texto tem cunho demagogo ou aspira perfeição.






Bravo!!!
Cientistas americanos começaram a investigar os genes do Ozzy Osbourne para, quem sabe, descobrir a fórmula mágica da vida, mesmo em pessoas que levam uma vida desregrada - pra dizer o mínimo.
A boa nova é louvável para os humanos bestificados nos quais temos nos transformado. E eu estou ficando cansado disso.
Acredito piamente na "piada" de que o homem é apenas mais um a preencher o hall dos animais irracionais, e digo com a firmeza da pouca razão que suponho me restar que, no dia em que eu encontrar uma lâmpada mágica digital, e dela sair um gênio em 3D, vou pedir que ele me mande pra Marte.
Não que eu goste da idéia de viver isolado, sem minha agenda do celular ou meu correio eletrônico de infinitos gigabytes, longe disso. O problema é que, de tanto almejarem ser humanos ultrassônicos, as pessoas estão se transformando em robôs pré-programados para seguir um modelo imaginário de perfeição.
São descobertas incríveis de curas para doenças, muitas delas causadas por eles próprios; invenções práticas que servem unicamente para escravizar os alienados que se deslumbram por qualquer tênis moderninho que veem na vitrine daquela loja chiquerrérrima; progressos genéticos que prometem reverter o tempo, como se o homem comprasse o tempo junto com aquele relógio de 354 cores.
São musicas que falam de coisa nenhuma, cantadas por infinitas vozes rigorosamente iguais, no mesmo tom de relinchos. São pet shops que revolucionam e salões de beleza que operam milagres.
Tudo por fora.
Por dentro a parafernalha parece vir com defeito de fábrica, porque a maioria de nós, robôs, tendemos a repetir exatamente as mesmas coisas que ouvimos aquela vj super estilosa ou o garoitinho ridículo do blog dizer. A maioria de nós, que tanto condenamos as marias-vão-com-as-outras, simplesmente segue a fila, que ganhou nomes mais despojados.
Maria caiu de moda.
E o que dizer dos sentimentos?
Faz-me rir.
Onde se ouviu dizer que robôs tem sentimento?
Nós aqui do planeta Terra preferimos ir ali na esquina, fumar qualquer coisa que nos dê status, encontrar "amigos" que inflem nosso ego, falar de drogas, bebidas, festas, brigas, mais drogas, etiquetas caríssimas em panos de chão...
O outro, aqui, é só o outro.
Porque deveríamos nos importar com coisas tão futeis como o amor?
O amor é uma descoberta que só vai ser investigada daqui a uns mil anos, quando algum metido a sabido resolver estudar as causas da extinção do homem-robô e acabar indo parar em Marte.
Não seria uma má idéia.
É, e talvez eu não seja mesmo daqui.


terça-feira, 29 de junho de 2010

Mística

À Luiza Elba


Fatal e simplória.
Não sei se essa é uma definição que se encaixa perfeitamente à Luiza.
Na verdade, nunca soube decifrar os códigos dela. Não sei quando ela é menina, não sei quando ela é mulher.
Talvez ela se divida em duas: Luiza, e Elba, assim como seu nome.
Pode ser que ela seja só Luiza, aquela mais doce, espontânea, ingênua, que faz a gente se achar um velho de noventa e poucos anos. Aquela que é péssima em mímica, em problemas de lógica e em redação, mas que é ótima em me fazer sentir de casa, em demontrar o seu amor puro e sua sinceridade sem pedras.
Quem sabe ela é só Elba, de lábios insinuantes, cinismo aparente e olhar convidativo. Aquela que parece ter uma senha que ninguém nunca conseguiu descobrir e cujos pensamentos devem ser, no mínimo, constrangedores...

Luiza deve ser a flor.
E Elba o espinho.

Mas o que fazer se Luiza e Elba são uma só?
Como reagir diante de uma contradição tão grande que dá vida a um ser indecifrável, instigador - e mágico?
Só se pode amá-la.
Amar cada piada que se torna chata quando ela não entende.
Amar as tardes de sorriso quando ela, quase à força, me faz engordar comendo besteiras.
Amar cada filme, cada música, cada momento compartilhado.

Nada mais posso fazer a não ser esperar por cada abraço forte.

Luiza Elba.
Uma, duas, mil.
Pra mim não importa de quantas maneiras ela pode aparecer.
Só importa a certeza de que todas, dentro dela, são reais e verdadeiras e que é muito, muito bom estar perto dela e ter a oportunidade de descobrir quando ela é mulher coco, flicts ou uma das panteras,letal.

E, seja quem ou o que ela for, é adorável;
Exatamente como é.

domingo, 13 de junho de 2010

Lírio, doce lírio.

À Isis Lima

Dizem que por mais lugares que passemos, ou mais pessoas que conheçamos, sempre haverá algo para aprendermos - e ensinarmos. Pude comprovar isso quando, em uma noite de ventos frios, encontrei o lírio, o mais branco de todos, de sorriso aberto e pronto pra ser colhido.
Não foi dificil encantar-se à primeira vista com Ísis (nome de batismo do doce lírio). Nunca é trabalhoso demais apegar-se às pessoas que trazem em sua face o convite a um começo sem final e eu, pretensioso que sou, não desperdiçaria a oportunidade de ter, no meu jardim de vento, uma flor tão preciosa.

Comecei por me deslumbrar.

Uma taurina por engano, quase geminiana, que falava de sonhos impossíveis, músicas de bom gosto, realidades paralelas e relacionamentos irreversíveis. Uma aluna de dança do ventre que, nas horas vagas, brincava de ser mulher - e tinha todas as armas pra isso.
Uma jovem de maturidade incrível, invejável.
Uma fortaleza. De vidro.

Era perturbador ter alguém ali, tão perto, que entendia exatamente o que se passava dentro da minha cabeça. Alguém de quem eu sentia orgulho por simplesmente tomar um suco de abacaxi com hortelã na mesma mesa de cantina, ou dividir o trident.
E esse alguém era ela. Ela com quem aprendi o que eu jurava já saber.
Aprendi que coração partido e sensação de derrota não significam o fim da vida, apenas o fim de uma etapa; que correr demais é preciso mas que, às vezes, parar um pouco é indispensável; que nossas escolhas podem mudar todo o resto de nossas vidas e que, um dia, algo pode dar errado, seja por falta de sorte, de sabedoria, de qualquer coisa que seja, menos por falta de perseverança.
Eu a ensinei a confiar em mais alguém e ela me ensinou a confiar em mim mesmo.
Ela torceu e fez muito por mim.
E eu torci por ela com todas as minhas forças.
Até que eu precisei sentir outros ventos, e ela ficou lá, plantada no meu jardim.

E, mesmo que não peguemos novamente o caminho pro ônibus, mesmo que não comamos mais na mesma mesa de faculdade ou não impliquemos mais com o sotaque um do outro, mesmo que nossos ventos nos levem a sentidos diversos e que nosso destinos nunca mais se cruzem, mesmo que floresçam milhões de lírios em milhões de jardins, ela continuará pra todo o sempre sendo a minha flor, minha doce flor a quem agradecerei eternamente momentos perfeitos da minha ventania.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Green eyes.

À Rafaelly Nunes


Um dia, quando eu for bem velhinho vou me lembrar de muita gente, não quero perder de vista as situações, as pessoas, os ventos constantes que me sopram quando a vida arde demais.
E se há alguém de quem certamente me lembrarei, nesse dia, será dela.
Uma garota difícil, quase problemática.
Que de tão dificil se torna insuportavelmente cativante. Não consigo me livrar das pessoas que entram no coração sem bater nem se avisar.
Não consigo - e nem quero - me livrar dela.
Ela é daquelas mulheres-meninas que não sabem o que farão daqui a um minuto, mas sabem que não se arrependerão e nem pisarão em falso. Uma pessoa que não se apaga, não desbota. Uma pessoa que o vento não leva.
E que bom que os ventos a trouxeram.

Já fizemos planos falidos, assistimos filmes nostálgicos de mãos dadas no sofá, já rimos um do outro e já choramos um pelo outro.
Já brigamos, pensamos que nunca mais iríamos nos suportar, mas sempre caímos no mesmo truque do destino e acabamos mais fortes do que nunca.
Já nos perdoamos, muito.
É difícil conviver com uma pessoa que, surpreendentemente, é tudo aquilo que não queremos ser, embora seja aquilo que somos.
Uma garota com alguma coisa de pimenta mexicana, com um ardor de encher os olhos; com uma doçura de sonho de valsa e leve como uma barrinha de cereal integral. Ou pesada como uma feijoada à meia-noite.
Ela foi, e é, um pouco de tudo isso.

Sorriso encantador, mascarando sua mente suja (mas também encantadora); gargalhada escandalosa, quase estridente; jeito desconcertante de quem quer colocar você no fogo e rir ao te ver queimando.
E um olhar de um verde perfeito, que fala por si só, mais que a boca.
Olhos verdes inesquecíceis.
Meu apoio.

Ela que transformou meu vento fraco em tempestade.
Ela que disse me amar quando eu mais precisava e menos merecia.
Ela que me faz tanto bem, mesmo agora quando tudo está tão diferente.

Ela que eu nunca vou esquecer.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O primeiro selinho a gente nunca esquece.

Bom pessoas, esses dias a Jéssica do blog Sweet Lovely (http://www.sweetlovely.blogspot.com/) me concedeu o primeiro selinho do Redemoinho.

Fiquei feliz pacas por isso, porque vejo que é meio um retorno, um bônus, é um sinal de que meus textos agradam alguém.

O selinho chama-se "O que é mágico para você?"

E, para mim, mágico é ter as pessoas que nos amam por perto.












E agora que eu ilustrei o meu selo com uma imagem, vou presentear alguns blogs com o meu selinho.
Eis:
Regras para quem recebeu o selinho:
•Pegue o selinho;
•Poste o link no seu blog de quem te deu o selinho;
•Escolha uma imagem qualquer e responda a pergunta "O que é mágico, para você"?
•Presenteie alguns blogs com o selinho, e avise-os disso.
Enfim, queria agradecer a Jéssica, brigadão mesmo. ♥

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ser feliz.

Ser feliz.
Uma escolha, sorte ou receita?
Acredito que ser feliz é mais do que se pode supor, é mais do que qualquer pessoa um dia possa descrever. Ser feliz deve ser como um estado de espítiro. Ou se é, ou não se é.
Sabendo ou não descrever, o que sei é que sou feliz, muito.
E se eu conseguisse definir algumas coisas que me fazem ter a felicidade que tenho, essas seriam algumas:
Eu diria que ser feliz é ter as pessoas que nos amam (e que também amamos) sempre por perto, ao alcance do coração.
Pode ser que felicidade tenha a ver com a quantidade de "eu te amo" que já ouvimos ou dissemos ou com a quota de sorrisos que esboçamos e despertamos durante nossa vida.
Ser feliz engloba muito e depende mais de cada um de nós do que poderiamos pensar um dia.
A felicidade vem sempre acompanhada de um amigo, de um amor, da familia, ou simplesmente de bons pensamentos. Ela está plantada dentro de cada um, apenas esperando ser regada pra florescer.
Felicidade é conseguir ver a imensa beleza que há nas pequenas rosas ou o arco-íris.
É ter a sabedoria de entender que as pessoas são maravilhosamente ímpares e que com elas não se deve brincar.
Ser feliz é ter o encanto das crianças quando brincam e são todas iguais.
E nem por isso deixar de ser adultos.
Ser feliz é ter um tempinho guardado pra si próprios.
E um lugar reservado no coração, onde sempre caibam mais amigos, amores, familiares...
Ser feliz é saber que a sua ausência desperta saudade ao invés de alívio e que, por mais tempo que passe e por mais coisas que aconteçam você sempre será lembrado.
Ser feliz é ter a humildade de deitar no colo da mãe e chorar, ou rir.
E brincar com ela da mesma forma que você fazia a 15, 20, 30 anos atrás...
Ser feliz é acreditar em Deus e saber a hora de agir, segundo Ele.
E procurar Deus em cada uma das pessoas que você ama, Ele está em todas.
Ser feliz não tem definição.
Não há como procurar a felicidade, nem comprá-la.
Chega um belo dia que você descobre que ela, a tão sonhada felicidade, sempre esteve dentro de você.










terça-feira, 11 de maio de 2010

O tamanho de uma formiguinha.

À Lorena Emanuelle.


Eu, soletrando versos inexistentes de "Equalize". Ela, corrigindo-os como quem não quer nada.
Eis uma informação importante: essa formiga tem alguma coisa de cigarra, e de preguiça.
Pode ser que tenhamos estado juntos antes, mas a lembrança mais forte é a daquela tarde alaranjada. Tarde que abriu portas que nunca se fecharão.
Não sei exatamente o que ela sifnificava pra mim naqueles tempos, mas o que quer que fosse, era de uma intensidade assombrosa - meio bossa nova e rock' roll.
Perdi a conta das vezes em que ela foi meu apoio, meu sobretudo, meu porto seguro ou reta de chegada. Aquelas noites de ventania onde era a casa dela o meu refúgio, onde era com ela que eu tecia meus mais ínfimos pesadelos e sonhos.
E sonhávamos muito, até virar temporal.
Eu era lans - com s - unicamente pra ela.
Mas esse senhor supremo chamado tempo, quis porque quis passar e trazer com ele pedras que eram grandes demais pra minha pequena formiga carregar.
Acontece que por motivos infantis e quase cruéis eu a magoei e a fiz chorar, e chorei.
E chorei por lembrar que era ela o meu alicerce, uma formiga tão pequena que conseguia carregar cem vezes o que eu carregaria na vida toda. Eu era pesado demais, escuro demais.
E desabei.
Segui meu destino como quem perde um rubi ou diamente. Eu tinha perdido uma coisa preciosa demais, uma amiga valiosa demais.
E o destino me rodopiou entre rimas de Marcelo Camelo e euforias a la The Cure, e me recochoteou como por armadilha, justamente ali, onde eu sempre deveria ter estado.

Hoje eu sei o quão importante essa formiguinha é pra mim e a falta tamanha que ela me faz.
Sei que nunca vou esquecer as manhãs, os passeios com cara de pique-nique de colégio, o sorvete de limão que a gente tomava no fim da tarde, as palavras que ela me mandou quando eu parti.
Nunca vou esquecer a minha pequena formiga.
Que por mais simplória que pareça por definição, representa pra mim uma das mais grandiosas pessoas que já conheci, uma das pessoas que mais me ensinou a ser eu.
Minha pequena grande formiga.
Eu te amo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Flicts - Uma conversa com Ziraldo

Chega a ser impressionante a maneira que a vida usa para nos pregar peças, daquelas de deixar os céticos boquiabertos...
Um dia eu li um livro. E naquele momento era só mais um livro.
Se chamava flicts.
E só hoje eu percebi que flicts e eu temos mais em comum do que se poderia imaginar.
Apesar disso, essas semelhanças são quase subentendidas, com um não-sei-o-quê que chega a incomodar de tão presente e , ao mesmo tempo, tão sutil.
Talvez seja a solidão que tanto caracteriza flicts e que também me é bastante peculiar, mesmo em meio à multidões. Essa auto-rejeição sem motivos aparentes e esse imperialismo negado.
Ou quem sabe a eterna busca de flicts pela chegada a lugar qualquer , aflição em realizar um grande feito ou, no mínimo, os pequenos sonhos.
Flicts conseguiu, um dia.

Flicts sempre foi cor de flicts. Nunca ousou outras matizes.
Eu já tive o brilho do amarelo e a calma do verde-água. Já apresentei tons pastéis, quis ser nood, quase opaco. Já estive roxo rebelde e até preto-e-branco, mas no fundo nunca fui nenhuma dessas cores todas, nunca fui arco-íris.
Flicts clamou, quase suplicou para aparecer em quaisquer bandeiras, brasões ou simples faixas atiradas n'alguma calçada suja de tinta. Tudo em vão.
Eu, pelo contrário, sempre quis passar despercebido, mesmo teimando em me fazer aparecer. Sempre pareci vermelho vivo ou azul imperativo.
Flicts era feio, frágil e aflito. Também tenho um pouco de tudo isso.
Um menino sonhador, um homem de olhos amendoados e mãos gélidas.
A forma incomum de flicts era seu exterior. O que me torna ímpar é o conteúdo.
Flicts via uma saída no alto, no distante; eu também.
Vento e areia.
Flicts me leu perfeitamente.
E eu, lendo flicts, descobri uma coisa surpreendente e desconcertante.
Descobri que no mundo há alguma coisa - além da lua - que é cor de flicts, ao contrário do que disse Ziraldo.
Descobri que, assim como a lua...
Eu também sou flicts.


domingo, 18 de abril de 2010

Daquilo que eu nunca tive.

No dia em que ocê foi embora,eu fiquei sentindo saudades do que não foi,lembrando até do que eu não vivi, pensando nós dois.
Lenine

Daquilo que eu nunca tive, pouco posso dizer, embora muito sinta.
Teu sorriso aberto, quase precipitado; o brilho dos olhos que cega e o calor das mãos, já que as minhas tem estado tão frias...disso tudo, nada tive.
Os versos que li contente, embora não fossem pra mim.
Os pensamentos que desconheço (mas que duvido que neles eu esteja) e as palavras que, quando soam, não trazem o som que espero...
As músicas que eu escuto por ti, e que você escuta sem motivos - ou não escuta.
O suave cheiro que você exala, e que por um momento se transforma no doce sabor de algo que nunca experimentei, mesmo desejando com todas as minhas forças!
Daquilo que eu nunca tive, me restam as lembranças do que eu teria, de um dia feliz onde tudo parecia começar e se quebrou antes mesmo de existir...
A tua voz, que de tão trêmula parecia sussurrada, falando coisas que eu sempre quis ouvir, sem nem mesmo mexer os lábios.
E o esquecimento do dia seguinte.
Ou o beijo, que nunca aconteceu.
De tudo aquilo que eu nunca tive, me sobraram os momentos que eu não vivi, as histórias que não ouvi - e nem contei- e o abraço forte que só te dei em sonhos...
E a esperança que teimo encontrar em cada olhar, cada conversa, e que acaba violentamente depois de um filme ou um estalar de dedos gelados.
Daquilo que eu nunca tive, o que mais me falta é você.

P.S. Foi só um vento fraco, eu espero.

domingo, 4 de abril de 2010

Releituras.

Livros que são lidos apenas uma vez tendem a ser esquecidos com facilidade.
Assim são os relacionamentos, as maneiras de lidar com os outros e consigo mesmo. Tudo necessita de uma releitura, de uma segunda demão para que as incertezas se tornem fatos e o achismo desapareça de vez da mente.
Muito do que pensamos começa a mudar à medida em que nos permitimos enxergar nossos preceitos - e preconceitos - por um ângulo diferente daquele de antes, por um ângulo novo.
E isso depende de como o mundo gira, e da nossa percepção de giro.
Pessoas que antes pareciam insubstituíveis, hoje podem ser apenas conhecidas, daquelas de "oi e tchau" , enquanto as distantes em outrora, vez ou outra, se tornam inseparáveis com o passar do tempo, e das experiências.
Ódio se torna amor, e vice-versa.
É o tempo -de quem tanto falo- que muda essa visão, esse sabor novo que não se sentia antes.
O melhor de nós converte-se em mediano e quando achamos que acabou vemos uma nova porta se abrir, e mais outra, e outra.As portas não acabam, e sempre haverá alguém para abrí-las.
É uma enxurrada tão forte de novidades antigas e repetições inéditas que, às vezes, pensamos ser um d'javu ou lembranças de vidas passadas que no fundo não passam de um aviso de algum lugar de nós, dizendo que tudo poderá acontecer novamente, mesmo quando parecer impossível.



terça-feira, 9 de março de 2010

Oração ao tempo.

"Compositor de destinos, tambor de todos os rítmos, tempo, tempo, tempo, tempo,entro num acordo contigo...Tempo tempo tempo tempo..."
Caetano Veloso
Atemporalmente, é do tempo que se fala.
E é ao tempo que se pede.
Que os sorrisos não desbotem como os que já desbotaram, e que as lágrimas rolem menos e por motivos menos graves - ou por bons motivos.
Que as pessoas preocupem-se com o bem estar de todos, mesmo que isso pareça demagogo demais pra ser real e que o destino não seja tão cruel quanto o premeditado, e que elas nunca se afastem tanto que seja impossível de enxergá-las dentro do coração...
Que os tombos e as quedas sejam proporcionais ao aprendizado e que não seja necessário muito sofrimento para aprendermos que não podemos nem somos nada sem aquele que nos rege, sem Deus.
Que o futuro seja um reflexo bom do presente e não um dejeto frustrado daquilo que não se conseguiu no passado, e que o amor consiga superar o orgulho e a falta de humanidadade.
Que as músicas me tragam lembranças doces e não tempestades avassaladoras que machucam a alma ou redemoinhos que teimam em destruir o concreto.
Que não se apaguem os bons relacionamentos e as amizades verdadeiras, e que os castelos de areia não desabem mesmo com a mais forte das marés, pois também é preciso sonhar.
E que esses sonhos não decepcionem.
Peço também sabedoria pra discernir água de óleo, ou amor de conveniência.
E, se não for querer demais, peço que você, tempo, passe com a velocidade certa, sem me deixar pra trás ou me jogar longe demais, onde eu não possa voltar.