Nada mais que uma dor
Súbita, quase mortal
De sentir cortar a alma
Fim do doce, sobra o sal
Por azar, não há remédio
Não há fulga, não há nãos
É quando os olhos transbordam
E brota o suor das mãos
E treme toda a rocha
Que se teima em içar
Desmorona a fortaleza
Incendeia todo o mar
E de tão tenra, calada
Não pulsa, não se anuncia
Trazendo bem sorrateira
O que, de veras, se temia
E abre, algoz, a ferida
E machuca, sem pudor
Transformando a calmaria
Num eco perturbador
Depois cuida, carinhosa
Daquilo que fez ferir
E cura a velha ferida
Pra fazer outra se abrir.
Allan Ricarte
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