domingo, 11 de setembro de 2011

Poema de Fases.

Se me deito ao som do fim
Em lugar algum, no nada
Percebo passar por mim
A sisuda madrugada
Levando o sabor do sim
Deixando a boca salgada

E eu, que brilho não tenho
Nem cor, nem viço, nem alma
Perdi o desejo ferrenho
Pousei no colo da calma
Descolori o desenho
Tirei os sonhos da palma

E agora me faço risco
Singelo, sem ser notado
Às vezes surjo, arisco
N'um canto ermo, isolado
Vou fingindo que é um cisco
O olho lacrimejado

Então vem a febre, e cresce
O rosto avermelha morno
A lágrima transborda, desce
É a dor que tece o contorno
Não grito mais minha prece
Pro sol já paguei suborno

Depois o silêncio aflora
Preenchendo meu vazio
O tempo que voa agora
Tão cheio, causa arrepio
É a vida que vai embora
Rompendo o último fio

O medo me torna abrigo
O coração, a bater
Meu pensamento contigo
Suplica não te esquecer
E é desse jeito que eu sigo...

Minguando, até morrer.

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