quinta-feira, 23 de outubro de 2008

13 pra meia-noite

De costas pra TV que noticia alguma coisa sobre a moda de assassinar adolescentes, sentado na cama,apoiado na cabeceira,reflito sobre a vida, ou a falta dela.
O silêncio é quase que total,interrompido apenas pelo periódico apito do guarda do posto de gasolina que fica logo ao lado,esse deve ser o ritual que ele usa para amedrontar os bêbados,já que bandidos por essas bandas são tão presentes quanto políticos fora da época das eleições.
Me pego pensando nas pessoas de todas as noites,aquelas que preenchem meus pensamentos nos ultimos minutos antes de dormir, e nos primeiros após acordar,e lembro que remotamente possa ser que elas também pensem em mim,só remotamente,tento esboçar um sorriso,mas meu pessimismo me diz que elas não pensam mesmo,e eu sempre sigo meu pessimismo.
Penso nos seus sorrisos,nas expressões típicas,modos como chamam meu nome,em como é bom conviver com cada um, melhor que conviver comigo mesmo...relembro a impaciência em esperar pelas minhas respostas nas janelas de msn da vida, e lembro que como o tempo é cruel, hoje a maioria infelizmente apenas não abre mais essas janelas...
Olho pra frente, minha parede recoberta pela minha coleção de bonés que tanto aprecio,eu incendiaria todos eles para voltar esse maldito tempo que tudo corrói, maldito tempo que passa.
Do lado,quase que totalmente abaixo da cama,meu par de all star sujíssimo me faz recordar as doces lembranças de um passado próximo,com um gosto de malandragem quase infantil...
Volto a mirar meus olhos no lençol frio que de tempos em tempos apresenta leves movimentos causados pelo tufão forte de vento que também sopra meu rosto.
Agora penso na minha importância,e minha insegurança podre me diz que ela nem existe,me diz que eu não sou importante patavinas,e de repente uma lágrima insiste em cair,mas antes que o faça é dissipada pelo vento, mesmo vento que leva tudo embora...
Olho em volta,os móveis me aparecem vagamente com a meia-luz do que eu chamo de abajour,uma picada de mosquito me incomoda como se houvesse sido um atropelamento.Mas mato o impecilho como por diversão,minha expressão é fria,digo isso porque num vulto consigo enxergar meu reflexo no espelho.
Desligo a TV.
Olho o relógio,são 23:47, eu já deveria estar dormindo o sono dos justos,mas é injustiça demais na minha cabeça,injusto estar aqui.
Volto a pensar cabisbaixo em como o tempo é cruel em mudar tudo aquilo que por mim seria eterno,mas me pergunto se o tempo não é o remédio pra tudo,ou o veneno...depende da dosagem,acho que de tanto tempo eu sofri uma overdose irreversível.
Movimentos no quarto ao lado me lembram que as 4:00 minha mãe estará acordada,e penso se até lá eu já terei dormido,creio que não, é muita coisa pra ocupar minha cabeça,é muita gente que eu ainda tenho que lembrar e orar...
Um copo d'água do lado me faz lembrar que minha garganta está seca, e que horas atrás eu aconselhei que alguém bebesse mais algumas gotas desse tão precioso "barrador de lágrimas",faz bem à saúde.
Uma confusão de pensamentos e sentimentos me atordoa e tento dormir.Doce ilusão.
Tudo é tão obscuro quanto essa quase madrugada.
Queria abrir a janela e poder enxegar a lua,algo de concreto que a minha insegurança não pudesse negar,mas é tarde demais,sempre foi tarde demais pra ver as coisas que só pra mim não existem.Mas me conforta muito saber que pros outros sempre existiu,saber que eu existo pros outros.
Paro de me martirizar,pego o MP3 e escuto uma música,a única que eu não deveria ouvir neste momento.Parece feitiço, a mesma música que passei o dia evitando,me reaparece a noite,uma que fala em curas e doenças...afinal,será que eu sou a cura ou a doença dos que me rodeiam?
Às vezes é melhor que não me respondam isto.
Muitos me pedem pra desabafar,e ver se alguém tem alguma coisa contra mim.A covardia me impede.E se de repente alguém resolve ter?
É caos demais pra uma criatura só.
Solto tudo no chão, bebo toda a água do copo,olho mais uma vez o relógio,já passa de meia-noite,esboço um meio sorriso de esperança por outro dia,e vou dormir,temendo o futuro que sempre chegará.

Um comentário:

Hanne. disse...

Volto a pensar cabisbaixo em como o tempo é cruel em mudar tudo aquilo que por mim seria eterno.

Lan pq vc sempre tem uma frase que acaba me tocando em seus textos? Te amo demais sabia?!!?


Ahh e vc concerteza é a "cura" pra todos que te rodeiam.

Belo texto.

Bjos meu amorrrr